Notícias de investigação: Descobrir o impacto molecular da cocaína e da metanfetamina no cérebro

Paracelsus

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O abuso de substâncias, particularmente o uso indevido de estimulantes como a cocaína e a metanfetamina (METH), continua a ser um desafio crítico para a saúde. Apesar da natureza generalizada do problema, as opções terapêuticas têm sido limitadas. No entanto, um estudo recente esclareceu a forma como estas drogas alteram a química do cérebro, abrindo potencialmente o caminho para tratamentos inovadores.

O estudo: Um mergulho profundo na química do cérebro

Investigadores da Universidade de Boston e do Instituto de Investigação Scripps iniciaram uma análise glicómica e proteómica exaustiva do cérebro de ratos, centrando-se em duas regiões críticas: o striatum (ST) e o hipotálamo lateral (LH). Estas regiões desempenham um papel fundamental na motivação e na recompensa, o que as torna fulcrais para compreender a dependência.

O estudo revelou alterações significativas nos níveis e estruturas de dois tipos de glicosaminoglicanos (GAGs) - sulfato de heparano (HS) e sulfato de condroitina (CS) - em resposta à exposição repetida à cocaína e ao METH. Estes polissacáridos interagem com factores de crescimento e respectivos receptores, influenciando profundamente a sinalização celular, a plasticidade cerebral e, em última análise, o comportamento aditivo.

Principais conclusões: O Impacto nos Glicosaminoglicanos

  1. Alterações nos padrões de sulfatação: O estudo descobriu que tanto a cocaína como o METH alteraram significativamente os padrões de sulfatação de CS no cérebro. Especificamente, houve uma redução na 4-O-sulfatação e um aumento na 6-O-sulfatação em ambas as regiões do cérebro. Esta mudança na sulfatação foi associada a alterações na plasticidade cerebral - como os neurónios formam ligações - sugerindo que estas alterações podem contribuir para os comportamentos compulsivos observados na dependência.

  2. Alterações proteómicas: A par das alterações nos GAGs, a análise proteómica revelou numerosas proteínas cujos níveis foram drasticamente alterados pela exposição à droga. Entre as alterações mais notáveis contam-se as proteínas relacionadas com a mielina (essencial para o isolamento dos nervos), a sinapsina-2 (envolvida na função das sinapses) e as vias de fosforilação oxidativa (vitais para a produção de energia nas células). Estas descobertas fornecem uma assinatura molecular da forma como o abuso de estimulantes perturba o funcionamento normal do cérebro, oferecendo potenciais alvos para futuras intervenções terapêuticas.

  3. Implicações terapêuticas: Um raio de esperança: Um dos aspectos mais empolgantes do estudo foi a descoberta de que, ao manipular os níveis de CS - especificamente ao aumentar a 4-O-sulfatação - os investigadores podiam atenuar alguns dos comportamentos de ansiedade e de procura de droga em ratinhos durante a abstinência. Isto foi conseguido através da utilização de técnicas de terapia génica para administrar um vírus modificado no cérebro, que aumentou os níveis de uma enzima específica envolvida na sulfatação do CS.
Esta descoberta sugere que o tratamento dos GAG e das suas vias associadas pode representar uma nova estratégia terapêutica para tratar a dependência de estimulantes. Ao restabelecer o equilíbrio destas moléculas no cérebro, pode ser possível reduzir os desejos intensos e a ansiedade que levam à recaída nos toxicodependentes em recuperação.

Conclusão: Uma nova fronteira na investigação sobre a toxicodependência

O estudo oferece uma nova perspetiva sobre as alterações bioquímicas que ocorrem no cérebro devido ao consumo crónico de drogas. Ao compreender estas alterações a nível molecular, os cientistas estão mais bem equipados para desenvolver tratamentos específicos que abordem as causas profundas da dependência, e não apenas os seus sintomas.

À medida que a investigação progride, estas descobertas poderão conduzir a terapias mais eficazes que ofereçam esperança a milhões de pessoas que lutam contra a dependência, marcando um importante passo em frente na luta contra esta doença generalizada.

Referências

O estudo discutido foi publicado na revista *Molecular & Cellular Proteomics* por uma equipa de investigadores da Universidade de Boston e do Instituto de Investigação Scripps, incluindo Manveen K. Sethi, Riccardo Maccioni e outros.
 

miner21

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Parece-me bastante prometedor! Obrigado pelo artigo pormenorizado!
 

Paracelsus

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